Encontrei nos meus guardados do Terramour esta carta de 1975 endereçada a Adriana, João Luiz e Andrea.
Era véspera de setembro de 1975, aniversário de Adriana, João Luiz e Andrea.
Hoje perdi o sono para pensar na imensa alegria que sentimos seu pai e eu de termos como filhos. Deveríamos lembrar minuto em minuto de agradecer a Deus, tão bom para conosco, por ter nos dado filhos tão maravilhosos, tão inteligentes, tão amadurecidos, numa época em que se vê tanta exigência na juventude, tanta insatisfação, tanta incompreensão e imaturidade.
Deus foi de fato muito pródigo para conosco e eu não me contive esse ano em dizer-lhes o quanto os admiramos, o quanto os amamos e o quanto nos sentimos felizes que a bondade de Deus nos permitisse vê-los ao nosso lado com saúde, carinho, amor e presença verdadeira. Nosso lar é maravilhoso porque temos vocês sete, e a nossa casa é assim tão bonita e florida porque são vocês a habitá-la cheios de sorrisos e briguinhas inconsequentes, mas sobre tudo cheio de amor, carinho e união uns com os outros.
Que mais seu pai e eu poderíamos pedir da vida se tendo vocês temos tudo e além disso nada nos falta em conforto, saúde e felicidade.
No entanto muitas vezes nos ausentamos de vocês... Muitas vezes nós parecemos distantes de seus problemas que para nós parecem pequenos , mas para vocês parecem grandes, amores contrariados, decepções, inseguranças próprios da idade, que sabemos ser passageiros. Nunca nos importunaram. E nesta hora tardia da noite eu lhes escrevo porque sinto uma ponta de remorso de não curti-los como deveria, sem aproveitar as delícias e o prazer de uma convivência mais profunda com a riqueza imensa que vocês possuem. Seria bem melhor se o tempo não corresse agora tão depressa, se a nossa vida social tão agitada não nos afastasse do convívio mais próximo e íntimo de vocês.
Vemos seus primos casarem-se e me arrepio só de pensar que um dia também irão se afastar do convívio conosco na mesma casa.
Meus filhos, talvez vocês me julguem muito sentimental hoje mas, a vida, uma louca corrida, nos tira a oportunidade de parar e pensar na real riqueza que possuímos sem notar. Quero deixar bem claro a vocês, meus filhos, do orgulho imenso que tenho de vocês, do valor enorme que vocês possuem, tão diferentes uns dos outros, com suas personalidades bem marcadas, já bem definidas que aprendi a respeitar, ao ver que vocês também se aceitam e se respeitam mutuamente uns aos outros.
A vida poderia parar aqui neste setembro de 1975 tamanha é a minha felicidade em possuí-los perto mas ela tem que continuar. Os outros também irão crescer Suzana, Belinha, Beto e Paula breve estarão mais velhos. A vida passa muito rápida sem que a gente possa reter nada nas mãos ou nos olhos, apenas no coração que estará repleto do amor imenso que sentimos por vocês. É um encanto inefável e misterioso o fato de tê-los como filhos. Gostaria de poder reter comigo esta visão maravilhosa do sorriso e da bondade de vocês.
Muito obrigada, meus filhos, agradeço a Deus a maior felicidade que tive na vida ao tê-los.