Aproxima-se o aniversário de Helena, minha antiga cunhada, e sua filha Patrícia, meiga e forte, elegante e seguidora dos Valores Humanos, comemora o aniversário de sua mãe, a quem se dedica de forma realmente valorosa. De Helena, Patrícia herdou sua sensibilidade e fibra, que lembro-me de ter percebido com admiração logo que casei. De seu pai, Paulo, Patrícia me lembra o meigo olhar de quem busca descobrir o sentimento das pessoas.
Patricia e Helena |
Não é fácil ter um blog aos 77 anos, mas hoje encanta-me o assunto. Meus estudos foram ricos em experiência e tempo de vida, como também em coragem na busca da cura.
Quando se vive muito, a imagem da morte vai ganhando vida e armazenando perdas. ANNIE ROTTENSTEIN é perfeita na arte da ponte. Permito-me resumi-la em suas IMAGENS DA MORTE na civilização ocidental:
- Na pré-história o Homo Sapiens - "homem que sabe", é assim chamado quando percebe seu destino de mortal, e por milênios desenvolve rituais de enterro, de reverência aos ciclos de sobrevivência, e outros.
- A criação da escrita, na Mesopotâmia, lega uma reflexão eterna sobre a busca da imortalidade e a inevitabilidade do fim. Os egípcios deixam no "Livro dos Mortos" um documento de vida em função da preparação para a morte. Os Etruscos consideravam o Reino do Além como ensolarado e ameno. Já os Gregos transformam o Hades em mundo do esquecimento e reservam o Olimpo, alegre, somente para os heróis.
- O Cristianismo, quando sai da clandestinidade das catacumbas, prega um Deus único e misericordioso, e também a bem-aventurança ao alcance de todos. A morte é domada em um sentimento religioso de sublimação e vivida como um ritual solene e coletivo. A Igreja da Idade Média se empenha em reafirmar sua meta de salvação eterna, uma vida de Boas Obras tem a recompensa do Paraíso ou o castigo do Inferno. No século XII aparece a possibilidade de purificação no Purgatório que marca o começo da consciência individual da morte.
- A época do Renascimento empreende uma busca ávida do Homem e de novas perspectivas que cantam o "momento vívere" e relegam a preocupação com o fim. As grandes navegações colocam ao alcance do homem ocidental culturas muita antigas e novas percepções:
* a Índia reverencia os ciclos da vida em permanente recriação, a Lei da Impermanência e a Roda das Reencarnações e dos Karmas, culminadas no livro dos mortos tibetano Bardo Thodol;
* a dialética dos opostos no Tao chinês e busca do vazio último do budismo zen consideram a morte como um estado de unidade e fusão cósmica já atingível em vida;
* o mundo árabe caminha espiritualmente no Conhecimento e cultivo do desapego. A morte é o momento da Verdade da Certeza no mundo sagrado inefável da "não forma";
* as Américas pré-colombianas não temem a morte pessoal, mas sim a morte cósmica, e praticam sacrifícios humanos para renovar a força de deuses e astros. Alguns praticam o canibalismo para se apropriar da coragem do inimigo valente.
- a Reforma Protestante divide a Europa Católica e prega uma relação direta e individual com Deus, austeridade, contrição pelo sofrimento e recusa de representação divina.
- com Descartes e os Enciclopedistas, surge o despertar da Razão como guia do homem e o Espírito Científico como filosofia - sementes da onipotência do homem moderno.
- A Revolução Francesa é capaz de imolar um rei de "Direito Divino" e a morte heróica em nome do "Direito dos Homens e da Pátria" é glorificada.
- Já os Românticos exaltam uma visão sensível, pessoal e marginalizada da vida e introduzem o culto saudoso aos mortos e aos cemitérios.
- Na Era Industrial, técnica e exploradora, a sociedade se distancia da percepção dos ciclos naturais e busca a todo custo novos poderes, dificulta a forma de se lidar com limites, e a morte passa a ser vivida com angústia.
- A Primeira Guerra Mundial traz à tona a crise de valores. A sociedade traumatizada se debate em lutas de classes de quem reivindica dignidade humana para o proletariado. Os Ateus consideram a morte sem além. Outros tentam transmutar a angústia existencial e o desmoronamento da ordem em buscas metafísicas, oníricas, surrealistas e até absurdas.
- A Segunda Guerra Mundial desemboca na terrível Era Atômica, onde a ameaça constante de morte em massa pulveriza toda e qualquer certeza de vida e sobrevida. A arte pós-guerra registra a fragmentação do homem, seu entorpecimento consumista, a robotização, o sacrifício de si mesmo e de seu ambiente.
- Diante do impasse apocalíptico, o homem procura sua reintegração numa ordem cósmica. A espiritualidade sem dogma manifesta-se na chamada "Nova Era". Revela-se um esforço de conhecimento secular e moderno, oriental e ocidental, para restabelecer a totalidade do Homem frente à Vida, à Morte e à Criação.
* a Índia reverencia os ciclos da vida em permanente recriação, a Lei da Impermanência e a Roda das Reencarnações e dos Karmas, culminadas no livro dos mortos tibetano Bardo Thodol;
* a dialética dos opostos no Tao chinês e busca do vazio último do budismo zen consideram a morte como um estado de unidade e fusão cósmica já atingível em vida;
* o mundo árabe caminha espiritualmente no Conhecimento e cultivo do desapego. A morte é o momento da Verdade da Certeza no mundo sagrado inefável da "não forma";
* as Américas pré-colombianas não temem a morte pessoal, mas sim a morte cósmica, e praticam sacrifícios humanos para renovar a força de deuses e astros. Alguns praticam o canibalismo para se apropriar da coragem do inimigo valente.
- a Reforma Protestante divide a Europa Católica e prega uma relação direta e individual com Deus, austeridade, contrição pelo sofrimento e recusa de representação divina.
- com Descartes e os Enciclopedistas, surge o despertar da Razão como guia do homem e o Espírito Científico como filosofia - sementes da onipotência do homem moderno.
- A Revolução Francesa é capaz de imolar um rei de "Direito Divino" e a morte heróica em nome do "Direito dos Homens e da Pátria" é glorificada.
- Já os Românticos exaltam uma visão sensível, pessoal e marginalizada da vida e introduzem o culto saudoso aos mortos e aos cemitérios.
- Na Era Industrial, técnica e exploradora, a sociedade se distancia da percepção dos ciclos naturais e busca a todo custo novos poderes, dificulta a forma de se lidar com limites, e a morte passa a ser vivida com angústia.
- A Primeira Guerra Mundial traz à tona a crise de valores. A sociedade traumatizada se debate em lutas de classes de quem reivindica dignidade humana para o proletariado. Os Ateus consideram a morte sem além. Outros tentam transmutar a angústia existencial e o desmoronamento da ordem em buscas metafísicas, oníricas, surrealistas e até absurdas.
- A Segunda Guerra Mundial desemboca na terrível Era Atômica, onde a ameaça constante de morte em massa pulveriza toda e qualquer certeza de vida e sobrevida. A arte pós-guerra registra a fragmentação do homem, seu entorpecimento consumista, a robotização, o sacrifício de si mesmo e de seu ambiente.
- Diante do impasse apocalíptico, o homem procura sua reintegração numa ordem cósmica. A espiritualidade sem dogma manifesta-se na chamada "Nova Era". Revela-se um esforço de conhecimento secular e moderno, oriental e ocidental, para restabelecer a totalidade do Homem frente à Vida, à Morte e à Criação.
Santuzza, sábiae dona da plavra que encina... Abraços com carinho, Jorge
ResponderExcluir