Primeiro a lembrança infantil de quando bem pequena eu pintava o rosto de vovó Erninha de batom e lápis de maquiagem, e ela pacientemente ficava deitada em meu colo. Logo que terminava a palhaçada no rosto da minha paciente e linda avó eu fugia pela Rua Rio de Janeiro, BH a fora, para que ela saísse correndo atrás de mim e evitasse um atropelamento. Tio Klauss morria de rir...
Ele que nascera a 12 de agosto de 1928 não tinha muita diferença de mim, que sou de 1934. Mais tarde, já mocinha, eu era toda vaidosa de aprender ballet com ele.
Não vou discorrer sobre sua carreira. Muitos já falaram sobre ela e há muitos teatros Klauss Vianna espalhados no Brasil.
Joana Ribeiro da Silva Tavares foi muito feliz quando escreveu o livro DO COREÓGRAFO AO DIRETOR.
Vou falar das minhas lembranças, das alegrias e da tristeza quando voltava da Venezuela e soube, no Rio de Janeiro, do grande enfarte que ele tinha tido, com parada cardíaca, e que tinha voltado, graças a Deus, por uma massagem que um médico havia feito - tão demorada que havia lhe quebrado uma costela.
Esse médico, bem me lembro, se chamava Pierre, e tinha sido um herói do pronto socorro chamado justamente quando estava passando naquela rua. Direto fomos vê-lo no hospital - meu marido e eu. Pegamos seus exames e fomos à São Paulo levá-los ao Dr. Adib Jatene, que se dispôs a operá-lo.
Fez umas quantas pontes de safena e ficou bom por cerca de 20 anos, quando então lhe foi indicada, pelo mesmo médico, a troca de coração.
Mais tarde tivemos um encontro também emocionante em São Paulo: em um grande salão, às 6 horas da tarde, Tio Klauss recebia um grupo numeroso de pessoas. Ele conseguia fazê-las descansar dos trabalhos e tensões do dia com um microfone potente nas mãos num trabalho de conscientização do corpo. Todos começavam como se nascessem do útero de suas mães, enrodilhados no chão, e terminavam saltando como alces .
Mais tarde tivemos um encontro também emocionante em São Paulo: em um grande salão, às 6 horas da tarde, Tio Klauss recebia um grupo numeroso de pessoas. Ele conseguia fazê-las descansar dos trabalhos e tensões do dia com um microfone potente nas mãos num trabalho de conscientização do corpo. Todos começavam como se nascessem do útero de suas mães, enrodilhados no chão, e terminavam saltando como alces .
Minha filha Andréa que havia chegado com olheiras de cansaço saltava leve e corada, descansada e feliz.
Meu tio Klauss era um verdadeiro feiticeiro.
Quando teve a parada cardíaca sua alma se desprendeu do corpo e olhava de cima o que acontecia sem querer voltar para a prisão do corpo, sentindo uma sensação de infinita liberdade. Foi várias vezes chamado a televisão para narrar o acontecido.
Quando morreu já estavam conseguindo o doador do coração compatível para o seu transplante. Mamãe era ainda viva e tive que distraí-la para não ver televisão, pois noticiavam à miúdo sua morte; por isso nem pude ir ao enterro.
Guardo ainda comigo o folheto de sua Missa de 7 dias de falecimento. Na capa estava escrito:
A ARTE É ANTES DE TUDO UM GESTO DE VIDA.
É POSSIVEL PENSAR A DANÇA COMO
UMA DAS RARAS ATIVIDADES EM QUE
UM HOMEM SE ENGAJA PLENAMENTE
DE CORPO, ESPíRITO E EMOÇÃO.
MAIS QUE UMA MANEIRA DE EXPRIMIR-SE
ATRAVÉS DO MOVIMENTO, A DANÇA É
UM MODO DE EXISTIR - É TAMBEM
A REALIZAÇÃO DA COMUNIDADE VIVA DOS HOMENS
KLAUSS VIANNA
Não sei mais quem fez o folheto da Missa. Se tio Rui, seu irmão, ou sua esposa Angel. Só sei que foi alguém de muito bom gosto e capricho. E na última folha tinha um verso de Fernando Pessoa.
NÃO DIGAS NADA.
SUPOR O QUE DIRÁ
A TUA BOCA VELADA
É OUVÍ-LO JÁ;
É OUVI-LO MELHOR
DO QUE O DIRIAS
O QUE ÉS
NÃO VE À FLOR
DAS FRASES E DOS DIAS.
NÃO DIGAS NADA:
SÊ.
GRAÇA DO CORPO NU
QUE INVISÍVEL SE VÊ
Lembrete:
Se procurar bem, você acaba encontrando
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida.
Carlos Drumond de Andrade.
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Santuzza, a vida nos dá lições e caminhos... Somos herdeiros de tantos... caminhos e sonhos.
ResponderExcluirA morte é dura... Gera uma sensação de ausência; até, que descubramos que tanta vida e tanto amor encontram-se germinados no nosso próprio coração... caminhos e sonhos, a caminhdada que prossegue com uma nova composição: somos nós, e somos todos, os amores e as flores que um dia fertilizaram nossa vida e nos fizeram ver Deus num canto de um passarinho ou no silêncio de uma oração...
Abraços com ternura e carinho, seu amigo, Jorge Bichuetti...